Durante séculos, a arte têxtil foi confinada ao silêncio doméstico.
Enquanto as chamadas belas artes, moldadas por um olhar masculino, conquistavam espaço nos museus e academias, a arte têxtil permanecia restrita ao ambiente doméstico. Feita majoritariamente por mulheres, foi por muito tempo tratada unicamente como extensão do trabalho doméstico, uma produção associada ao cuidado e à utilidade, relegada à categoria do artesanal.
Essa lógica moldou currículos, acervos e narrativas históricas, afastando as obras têxteis das expressões legitimadas como arte e apagando a contribuição de gerações de mulheres artistas.
Nas últimas décadas, a arte têxtil tem sido reavaliada dentro do campo das artes visuais. Mais do que uma prática material ou técnica, ela é compreendida como um discurso sobre gênero, tempo e política. O que por muito tempo foi classificado como trabalho doméstico revela-se, hoje, uma linguagem artística plena – sofisticada em conceito, processo e significado.
O Boletim Têxtil surge nesse contexto: como um espaço de estudo, reflexão e difusão da arte têxtil.
Seu propósito é contribuir para a reconstrução de uma história mais ampla e justa, que reconheça o valor das práticas manuais e o papel das mulheres na formação do campo artístico.
Mais do que ensinar técnicas, este projeto busca fomentar autonomia, liberdade e senso de pertencimento. Criar espaços de aprendizado e troca onde o fazer manual seja compreendido como meio legítimo de expressão e conhecimento.